René Guénon, Olavo de Carvalho e a formação de uma elite intelectual metapolítica

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Alvaro Bianchi

Resumo

O metafísico francês René Guénon e o escritor brasileiro Olavo de Carvalho partilharam um diagnóstico da crise da civilização ocidental que identificava sua origem no nascimento do mundo moderno. Para ambos, as correntes científicas e filosóficas surgidas a partir do Renascimento teriam abalado o mundo espiritual e degradado a cultura contemporânea. Não apenas o diagnóstico era partilhado, também o remédio para restabelecer a tradição foi comum. Guénon e Carvalho consideravam necessária a formação de uma nova elite intelectual para a realização dessa restauração espiritual. Com esse propósito propuseram um programa pedagógico que mobilizou diferentes superestruturas – salões e revistas, no caso francês; cursos e redes sociais, no brasileiro. Os resultados são, entretanto, bastante diferentes. Enquanto as ideias de Guénon penetraram na alta cultura da época, Carvalho manteve-se sempre à margem. 

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Biografia do Autor

Alvaro Bianchi, UNICAMP, Brasil

Professor titular de Ciência Política e coordenador do Laboratório de Pensamento Político (Pepol) na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, Brasil). Pesquisador associado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu) e bolsista de Produtividade em Pesquisa Nível 2 do CNPq. Mestre em Sociologia (2000) e doutor em Ciências Sociais (2004) pela Unicamp. Realizou estágios de pesquisa como visitante na Universidade de Columbia, na Fondazione Gramsci, na Brunel University e na Università per Stranieri di Perugia. Integra o Comitê Coordenador da International Gramsci Society, o conselho editorial do *International Gramsci Journal* e os comitês científicos das coleções Marx 21 e Per Gramsci. Desenvolve atualmente pesquisa sobre a ideologia dos fascismos. Foi diretor do Arquivo Edgard Leuenroth (2019-2017) e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (2017-2021).

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